Visão Teológica da Carta aos Romanos – Capítulo 1

Resumo: A Carta aos Romanos é um dos textos mais teológicos do Novo Testamento e representa o ápice da reflexão paulina sobre a justificação pela fé. No primeiro capítulo, São Paulo se apresenta, expõe o cerne do Evangelho e inicia sua argumentação sobre a universalidade do pecado e da necessidade da salvação em Cristo. Este capítulo tem um impacto profundo na Tradição da Igreja, sendo citado por inúmeros Padres da Igreja e Doutores da Igreja ao longo da história. Sua mensagem é essencial para a compreensão da graça, da revelação divina e da condição humana caída.

VISÃO TEOLÓGICA

3/5/20254 min read

1. Introdução

A Carta aos Romanos é um dos textos mais teológicos do Novo Testamento e representa o ápice da reflexão paulina sobre a justificação pela fé. No primeiro capítulo, São Paulo se apresenta, expõe o cerne do Evangelho e inicia sua argumentação sobre a universalidade do pecado e da necessidade da salvação em Cristo.

Este capítulo tem um impacto profundo na Tradição da Igreja, sendo citado por inúmeros Padres da Igreja e Doutores da Igreja ao longo da história. Sua mensagem é essencial para a compreensão da graça, da revelação divina e da condição humana caída.

2. Análise Teológica

2.1. A Identidade e Missão de São Paulo (Rm 1,1-7)

São Paulo inicia sua epístola apresentando-se como "servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o Evangelho de Deus" (Rm 1,1). Essa introdução revela sua vocação divina e a centralidade do Evangelho na sua missão. O conceito de "chamado" ressoa com a teologia do Antigo Testamento, onde Deus escolhe profetas e reis para cumprir Seus desígnios.

A referência ao Evangelho "prometido por meio dos profetas nas Escrituras" (Rm 1,2) destaca a continuidade entre a Antiga e a Nova Aliança, um ponto fundamental para a interpretação católica da Escritura. Santo Agostinho comenta que "o Novo Testamento está escondido no Antigo, e o Antigo se manifesta no Novo" (Quaestiones in Heptateuchum).

2.2. O Poder do Evangelho (Rm 1,8-17)

Nos versículos 8-15, Paulo expressa seu desejo de visitar Roma para fortalecer a fé da comunidade e ser fortalecido por ela. Ele vê a missão apostólica como um intercâmbio de graças espirituais.

O versículo-chave desta seção é Romanos 1,16:
"Não me envergonho do Evangelho, pois ele é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro para o judeu, depois para o grego."

Aqui, Paulo introduz o conceito da fé como meio de justificação, que será desenvolvido ao longo da epístola. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) afirma que "a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus" (CIC §150), ecoando a ênfase paulina na resposta humana ao chamado divino.

2.3. A Revelação Natural e a Condenação do Pecado (Rm 1,18-32)

Nesta parte, Paulo apresenta uma argumentação sobre a revelação de Deus na criação e a responsabilidade da humanidade diante dessa revelação. Ele afirma que "desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus – seu eterno poder e sua divindade – são claramente vistas pelas coisas que foram criadas" (Rm 1,20).

Esse trecho fundamenta a doutrina católica da revelação natural, segundo a qual Deus pode ser conhecido pela razão humana a partir do mundo criado. São Tomás de Aquino ensina que a existência de Deus pode ser demonstrada filosoficamente (Summa Theologiae, I, q. 2, a. 3).

No entanto, Paulo mostra que, embora os homens tenham essa evidência de Deus, muitos optaram por rejeitá-Lo, entregando-se à idolatria e aos pecados morais. Ele descreve a decadência da humanidade longe da graça divina, destacando a corrupção do pensamento e dos costumes.

Esse trecho foi usado pela Tradição da Igreja para ensinar sobre a necessidade da graça para vencer o pecado. São João Crisóstomo comenta que “a mente humana, privada da luz divina, inevitavelmente se obscurece e cai na idolatria e na corrupção moral” (Homiliae in Epistolam ad Romanos).

3. Contextualização Histórica

A Carta aos Romanos foi escrita por volta do ano 57 d.C., durante a terceira viagem missionária de Paulo, provavelmente em Corinto. Roma era o centro do Império e abrigava uma comunidade cristã composta por judeus e gentios convertidos.

No contexto judaico, a ênfase paulina na fé, e não na Lei mosaica, era revolucionária. No mundo gentio, a condenação da idolatria e da imoralidade sexual era um chamado radical à conversão.

A Patrística interpretou esse capítulo à luz da luta contra o paganismo e a necessidade de evangelização. Santo Irineu, por exemplo, usou essa passagem para demonstrar que Cristo é a revelação plena do Deus verdadeiro (Adversus Haereses, III, 24,2).

4. Aplicação Catequética

O primeiro capítulo de Romanos nos ensina verdades fundamentais para a vida cristã:

  1. A Centralidade do Evangelho – Assim como Paulo não se envergonhava do Evangelho, os cristãos são chamados a testemunhar sua fé com coragem.

  2. A Fé como Caminho para a Salvação – A confiança em Cristo e não na própria justiça é a base da doutrina católica sobre a justificação.

  3. A Responsabilidade Moral – O pecado afasta o homem de Deus e leva à degradação espiritual e moral. A Igreja ensina que somente a graça pode restaurar a dignidade humana.

O Catecismo reforça essa mensagem ao afirmar que "o homem foi criado para viver em comunhão com Deus" (CIC §27), e o pecado é uma rejeição dessa comunhão.

Para a vida prática, esse capítulo convida os cristãos a examinarem sua relação com Deus, a evitarem a idolatria moderna (dinheiro, poder, prazeres) e a se firmarem na fé e na graça de Cristo.

5. Conclusão

O primeiro capítulo de Romanos é um alicerce para a teologia paulina e para o ensinamento da Igreja sobre a fé, a graça e a necessidade de conversão.

A condenação do pecado e a ênfase na fé como meio de justificação são temas centrais do cristianismo. A Tradição da Igreja sempre ensinou que a verdadeira justiça vem de Deus e se manifesta na vida dos que vivem segundo o Evangelho.

Encerramos com as palavras de São João Paulo II, que afirmou:
"A fé não é apenas um ato intelectual, mas uma adesão total da pessoa a Cristo, que transforma nossa existência e nos torna novas criaturas no Espírito" (Redemptoris Missio, n. 11).

Que possamos viver essa fé com fidelidade, deixando-nos guiar pelo poder do Evangelho, que é salvação para todos os que creem.